Símbolo da alma e união gaúcha, a chama crioula chegou ao Palácio Piratini na manhã desta terça-feira (14/9), oficializando o início da Semana Farroupilha em uma cerimônia marcada pela representatividade. A centelha entregue pelos cavalarianos, sentinelas da tradição desde 1947, foi recebida pelo governador Eduardo Leite e pela patrona dos Festejos Farroupilhas de 2021, a declamadora Liliana Cardoso.
As celebrações deste ano vão enaltecer o bicentenário do nascimento de Anita Garibaldi e o cinquentenário do Dia da Consciência Negra e do Movimento Nativista, temas destacados pelo governador.
“Todos esses movimentos resgatam o sentimento de pertencimento da nossa sociedade e é importante cultivarmos, por meio de símbolos e tradições, a nossa identidade, mas também a diversidade que nos torna maiores e mais capazes. História se faz aqui hoje, quando a chama é recebida por uma mulher negra, patrona dos festejos, e pelo primeiro governador assumidamente gay. E o mundo não acabou, pelo contrário. O Rio Grande vive um momento de virada nas contas públicas e nos investimentos. E tudo isso travando bons debates, no campo das ideias, com respeito, sem nos enfrentarmos como povo”, declarou.
Ao lembrar da trajetória de dedicação ao movimento tradicionalista gaúcho, hoje coroada com o patronato da Semana Farroupilha, Liliana se emocionou. “É um momento de grande emoção para aquela guria que veio da periferia de Porto Alegre, criada dentro de um Centro de Tradições Gaúchas. Essa chama viva que arde aqui hoje nos faz refletir sobre os ideais que tanto louvamos na nossa bandeira rio-grandense: liberdade, igualdade e humanidade. Se essa chama aqui arde e nos une, mesmo em um mundo tão desigual e com tanto ódio, perante esta chama, penso eu sermos iguais”, afirmou.
Secretária da Cultura, Beatriz Araujo exaltou a visibilidade que a cultura vem recebendo no Estado. “Neste momento que é tão caro para todos os gaúchos, é muito bom poder falar do que estamos fazendo pela cultura no Rio Grande do Sul. Temos um governo que respeita a diversidade do nosso povo, e assim continuaremos a respeitar toda as manifestações culturais, diversas e legítimas, de toda as regiões do nosso Estado, que aqui, neste momento carregado de emoção e significado, podemos ver representadas”, disse.
A chama acesa no Piratini foi composta pela centelha do CTG Setembrina dos Farrapos, em Viamão, e pelo Fogo Simbólico da Pátria, que percorreu municípios gaúchos até 7 setembro. O presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Manoelito Savaris, explicou que a cerimônia da primeira chama, em agosto, foi diferente neste ano em razão da pandemia. “Foram acesas centelhas em 30 lugares diferentes, para evitar aglomeração em um mesmo ponto. A primeira foi em Cruz Alta, um município histórico”, observou.
A tradição da chama crioula teve origem em 1947, quando os tradicionalistas Paixão Cortes, Cyro Ferreira e Fernando Vieira, retiraram uma centelha do fogo simbólico da pátria e acenderam o primeiro candeeiro crioulo, em Porto Alegre, representando a coragem, a união dos povos e o amor do gaúcho pela sua terra.
Após a cerimônia no hall do Palácio Piratini na manhã desta terça (14), foi inaugurada, no Salão Negrinho do Pastoreio, a exposição fotográfica "Gaúcho", do fotógrafo Fábio Mariot, que faz um recorte étnico do trabalhador do campo e do ginete, apresentando um gaúcho diferente do imaginário social.
Homens negros, de diferentes regiões do Estado, fotografados em sua lida diária, em galpões de fazendas. O objetivo da mostra, que tem curadoria de Clarissa Lima e Izis Abreu, é dar visibilidade ao povo negro, fundamental para a construção política, social e cultural do RS. Na abertura da exposição, a poetisa Lilian Rocha declamou poemas do poeta gaúcho Oliveira Silveira, um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra, criado no Rio Grande do Sul e que completa 50 anos em 2021.
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Texto: Thamíris Mondin
Edição: Marcelo Flach/Secom
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