Em meio à tristeza de perder um irmão, uma moradora de Bento Gonçalves ainda encontrou forças para fazer um desabafo e um apelo às famílias para que permaneçam atentas com relação à ameaça das drogas. Na tarde desta segunda-feira, dia 2, Rafael Rodrigues, de 29 anos, foi assassinado a tiros no bairro Aparecida, enquanto estava como passageiro em um carro de aplicativos. A execução, que repete uma triste cena cada vez mais constante na cidade, motivou Letícia Rodrigues a fazer um corajoso relato na própria notícia do homicídio, gerando comoção da comunidade local.
No comentário, reproduzido junto a esta matéria, Letícia reconhece os erros do irmão – que, às custas de sustentar o vício, entrou no mundo do crime –, mas lembra da luta da família para tentar fazer com que ele saísse desse universo sombrio e perigoso. "Fez tudo de errado, mas, com a família, ele sempre teve aquele sorriso, mesmo com a tristeza que dava pra ver no olhar dele. Ele tentou mudar várias vezes, mas quem entra pro mundo do crime sabe que não tem volta. Muitos vão criticar e ficar felizes com essa notícia. Mas eu só digo uma coisa: cuidem dos seus filhos para que não aconteça isso com eles também", alerta.
Disposta a tentar auxiliar outras pessoas que podem estar passando por situação semelhante, ou até mesmo para chamar a atenção de familiares sobre o risco de ver um parente entrando neste "caminho sem volta", ela aceitou contar um pouco mais da história do irmão ao NB Notícias. Criado em uma família cristã, Rafael usou drogas pela primeira vez aos 14 anos, com um amigo que ainda é dependente químico. "Quando a família descobriu que ele estava usando, foi um choque. Nunca iríamos imaginar que alguém da nossa família cairia nesse vício. Por várias vezes, tentamos interná-lo em clínicas, nunca tendo um bom resultado. Ele saía, ficava uns meses sem usar, mas logo caia nas drogas de novo", recorda a irmã.
Um dia, quando Letícia e a mãe tomavam café, chegou a temida notícia: Rafael havia sido vítima de uma primeira tentativa de homicídio. "Tentaram matar ele por estar roubando para sustentar o vício. Lembro que nos chamaram dizendo que ele foi esfaqueado perto de casa. Saímos correndo desesperadas na rua. Ele saiu dessa, mas aí que começou o problema, ele encontrou segurança no crime. Uma segurança ilusória", conta.
Sem saber a quem mais recorrer, a família buscava refúgio na religiosidade e, seguidamente, também ouvia de Rafael que ele queria mudar de vida. "Ele me ligava dizendo que queria ter dinheiro pra ir morar em outro estado e começar do zero. Mas não deu tempo. Para a polícia e os cidadãos, ele era um bandido, e isso é uma verdade. Mas para a família que estava com ele desde criança é outro sentimento. Mesmo com os erros, ele sempre foi uma pessoa carinhosa, carente", diz Letícia.
Rafael tinha dois filhos, de 4 e 8 anos, que viviam com ele e dos quais agora os familiares tentarão manter a guarda. "Isso que eu gostaria de mostrar para as famílias, que o crime não compensa. Quem morre vai, mas quem fica sofre. A única esperança que nossa família tem é que ele pode ter se arrependido antes de morrer. E que, quando Jesus voltar, nós possamos nos reencontrar lá no céu", finaliza a irmã.
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