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Vereador é preso junto com integrantes da facção Os Bala na Cara na Região Metropolitana

Parlamentar é irmão de líder da facção em Cachoeirinha e usava os criminosos para amedrontar adversários políticos.

03/08/2021 às 09h22 Atualizada em 03/08/2021 às 09h50
Por: Marcelo Dargelio Fonte: GZH
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Zé Pequeno (de óculos) já estava preso. O vereador Juca, irmão dele, foi preso na manhã desta terça-feira, 3.
Zé Pequeno (de óculos) já estava preso. O vereador Juca, irmão dele, foi preso na manhã desta terça-feira, 3.

Policiais do Departamento de Homicídios da Polícia Civil prenderam na manhã desta terça-feira, 3 de agosto, um vereador na cidade de Cachoeirinha, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ele é acusado de integrar a facção Os Bala na Cara e usar os criminosos para intimidar e ameaçar adversários políticos na cidade. Além disso, a facção é acusada de ser responsável por mais de 30 homicídios em várias cidades do Rio Grande do Sul. No total mais de 20 pessoas foram presas.

Esta é considerada pela Polícia Civil uma das maiores operações contra o crime organizado neste ano. Desde a madrugada, estão sendo cumpridas 82 ordens judiciais, em oito municípios gaúchos. Os indícios são de que o grupo atuava sobretudo na Região Metropolitana, com foco em Cachoeirinha e Gravataí, mas que praticava extorsões e homicídios em todo o Estado.

Um dos presos é o vereador de Cachoeirinha, José Francisco Soares, o Juca (PSD). Juca Soares é irmão do principal alvo da operação, Tiago Soares da Silva, o Tiago Pequeno ou Zé Pequeno, um dos líderes da facção Os Bala na Cara. Ele responde a nove inquéritos por homicídios e tem antecedentes por cinco assaltos a banco, roubo de veículos, arrombamento de caixas eletrônicos, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Conforme as investigações, o vereador — que tem antecedentes por ameaça e introdução de telefone em penitenciária — receberia mesada da quadrilha e teria obtido ajuda para amedrontar rivais na política, inclusive com queima de placas e cartazes de propaganda de adversários. Pequeno e os principais aliados na facção já estão presos e tiveram decretada nova prisão preventiva.

Foi também apreendida documentação que mostraria contabilidade de supostas remessas de dinheiro dos criminosos para a campanha política de Juca. O vereador e alguns assessores tiveram a prisão preventiva decretada pela 17ª Vara Criminal de Porto Alegre, que lida com crime organizado. O parlamentar já era investigado pelos mesmos motivos pelo Ministério Público Eleitoral, com vistas à possível cassação do mandato. As investigações da Polícia Civil apontam que ele receberia um percentual da arrecadação feita pela quadrilha em locais de jogatina clandestina. Mas há também indícios de ameaças no período eleitoral.

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Delação aponta matadores

A investigação da Polícia Civil começou quando foi preso um suspeito de homicídio, ligado à facção. Ele se dispôs a firmar uma colaboração premiada, aceita pela Justiça.

O homem acabou confessando 10 assassinatos em que ele mesmo esteve envolvido (a polícia só sabia de um) e detalhou ao todo 31 mortes que teriam sido efetuadas pela quadrilha de Pequeno, por meio de 79 matadores. O colaborador está agora no programa Protege, destinado a testemunhas ameaçadas.

A maioria dos assassinatos relatados pelo delator são contra rivais de outras quadrilhas. Um deles é de um gerente de facção rival, Os Manos, que atuava em Canoas. Conforme a narrativa, ele foi sequestrado por quadrilheiros vestidos com uniformes da Polícia Civil — ligados a Pequeno — e esquartejado, com execução filmada e divulgada em redes sociais para assustar adversários.

Outro caso notório é uma chacina em Mostardas, ocorrida em 2019, quando bandidos entraram de madrugada em uma boate a atingiram 10 pessoas com tiros, matando cinco delas. O crime é atribuído, nas investigações, à quadrilha de Pequeno, em desacerto por pontos de prostituição e drogas.

Jogatina por todo o Estado

A investigação do Departamento de Homicídios constatou que a facção disfarça os lucros de diversas formas

A investigação do Departamento de Homicídios constatou que a facção disfarça os lucros de diversas formas. Entre elas, compra de locais de jogo ilegais. Eles atuam sobretudo na Região Metropolitana, mas também se associam a bicheiros e donos de bingos na região de Bagé e Pelotas. A associação se dá por convencimento ou ameaça. Em outros casos, a facção simplesmente toma o local, à força.

O dono de jogatina ilegal que não colabora sofre represálias. O exame de celular apreendido mostra que, ao ordenar o ataque a um bingo que se recusava a pagar propina para a facção, um gerente do tráfico determina, por WhatsApp: "Pegaaaa" e "Vai lá e toma os jogos que tiver. Tudo que não seja nosso. E seguinte: essas mulher aí das salas... vou acabar matando uma ainda".

Com base em diálogos como esses, a Justiça expediu mandados de busca e apreensão para 59 endereços. Desses, 17 são casas de jogo e bares com caça-níqueis. Os demais, residências e locais de encontro de criminosos que seriam ligados à facção. Os endereços são em Cachoeirinha, Gravataí, Porto Alegre, Esteio, Portão, Guaíba e Pelotas. Alguns funcionam também como ponto de venda de drogas.

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