Um fato chocante, semelhante ao do famoso médico das artistas Roger Abidelmassih, abalou os moradores da cidade de Canguçu, município de pouco mais de 56 mil habitantes no Sul do estado. O ginecologista mais conhecido da cidade é acusado de abusar sexualmente de pacientes. Cairo Barbosa é réu por violação sexual mediante fraude. Conforme o Ministério Público, quatro mulheres relatam o mesmo tipo de conduta por parte do médico. Os crimes teriam acontecido em diferentes anos. A denúncia foi enviada no dia 13 deste mês e aceita pela Justiça no dia 17.
Barbosa, um dos mais antigos profissionais de Canguçu, teria cometido o abuso durante as consultas. Segundo o MP, nos relatos, as mulheres contaram que o profissional, sem luvas, passou a mão em partes íntimas das vítimas alegando que aquilo fazia parte do exame. "Ele justificava que elas precisavam se lubrificar para o exame. Muitas eram gestantes. Era uma fragilidade absoluta. A figura do médico no Interior, em cidades pequenas, por si só já é respeitada, tem uma autoridade. E tem todo o tabu, vergonha, de serem julgadas e expostas. Ele não fazia isso com todas as clientes, provavelmente identificava as mais frágeis. Há pacientes que certamente gostam do atendimento dele, pois não passaram por isso", diz a promotora Luana Rocha Ribeiro.
A investigação na Polícia Civil se iniciou em 2020. Três mulheres procuraram a delegacia com relatos semelhantes de abusos que teriam sido cometidos pelo mesmo profissional, entre 2012 e 2017. A polícia chegou a pedir a prisão do médico logo após tomar conhecimento dos casos, o que foi negado pela Justiça.
Em setembro de 2020, o delegado César Nogueira assumiu a delegacia de Canguçu, quando o inquérito ainda estava em andamento, ouviu novas testemunhas e decidiu indiciar o médico por violação sexual mediante fraude. "Ao final, ele não fazia coleta nenhuma de material e, simplesmente, segundo as denúncias, só saciava sua lascívia, só sentia prazer em cometer esse crime", declarou o delegado.
Ainda segundo Nogueira, os relatos são de que depois do fato Barbosa chamava uma secretária para que ela seguisse com o exame. A polícia entendeu que a secretária não tinha envolvimento com o crime e, por isso, não a indiciou. "Ela nunca esteve na sala do médico quando ele praticava essas condutas. Ela ficava na antessala, na secretaria, e só depois era chamada. Não participava", disse o delegado.
A similaridade entre os fatos contados serviu como prova para a polícia de que conduta do médico seria reiterada. A história foi revelada nesta quarta-feira (26) em uma reportagem do site Canguçu Online. Ainda na quarta, outras três vítimas procuraram a polícia com relatos semelhantes, encorajadas após ver que outras mulheres tomaram a inciativa. "É sempre assim. Muitas mais aparecerão. Já tínhamos notícia de que havia outras vítimas, mas agora certamente outras virão à delegacia contando o que passaram", concluiu o delegado.
O que diz a defesa do médico
Em nota, o defensor do médico Cairo Barbosa, Gustavo Goularte afirmou: "As acusações são bem graves. Não existe prova da ocorrência. A defesa que foi apresentada nesta quarta-feira, no processo, já traz em caráter preliminar fortes elementos da inocência do nosso cliente. Os fatos são inexistentes. Uma das exigências do doutor Cairo é que o processo tramite o mais rápido possível para que a verdade se estabeleça".
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