Com uma estrutura que está entre as mais modernas do país, a nova sede da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) em Bento Gonçalves foi inaugurada há menos de duas semanas, mas, desde então, vem gerando questionamentos junto a algumas famílias que utilizam os serviços oferecidos pela instituição, principalmente as mais carentes. As reclamações estão relacionadas à dificuldade de acesso, já que, para se chegar ao complexo de 2.500m², é preciso percorrer um trecho de estrada de chão após a entrada pela rua Domênico Marini, no bairro Imigrante.
Os poucos ônibus urbanos que circulam pela região não adentram a via de terra, fazendo com os usuários que dependem do transporte coletivo tenham que se deslocar a pé. A poeira – ou o barro, nos dias de chuva – complica ainda mais a caminhada, que já é perigosa pela falta de passeio público. Nesse ponto, em virtude da presença de empresas na área, também transitam alguns caminhões durante o dia, o que aumenta os riscos. O resultado tem sido a ausência de algumas crianças aos atendimentos agendados.
É o caso de Luciana Rosa de Melo, que leva a filha de três anos e sete meses para consultas regulares com a fonoaudióloga disponibilizada pela Apae. Essa rotina já durava mais de um ano e meio, antes na sede da avenida Planalto, mas acabou sendo interrompida nos últimos dias. "Minha filha tem paralisia cerebral, então fica difícil levá-la no colo, são quase 15 minutos de caminhada. A sede ficou ótima, o atendimento continua sendo excelente, mas tem algumas coisas que parece que não foram pensadas, como essa do acesso", lamenta.
Ela relata que mora no bairro Fátima e que, no caso da volta para casa, por exemplo, teria que esperar até as 18h pelo transporte coletivo. Na última segunda-feira, quando mãe e filha acabaram não podendo comparecer ao atendimento, o horário marcado era 14h. "Nós estaríamos liberadas antes das 15h, como eu iria esperar tanto tempo até poder pegar o ônibus? Os horários são muito espaçados. Se eu estivesse sozinha, até voltaria a pé, mas com ela no colo fica muito complicado", completa Luciana.
Alternativas
De toda forma, ainda que a nova Apae do município já esteja em funcionamento mesmo com estas questões de acesso pendentes, a associação garante que sempre esteve nos planos buscar melhorias para sanar ou, ao menos, amenizar esta situação. O que ocorreu, segundo o presidente Paulo Ranzi, foram alguns atrasos em tratativas para permitir mais esse avanço.
Uma delas é justamente a negociação junto à empresa responsável pelas rotas de transporte coletivo na região, que já se comprometeu a estabelecer algumas linhas que contemplem a ida até a porta da entidade. "Foi pensado, só não deu para executar antes da inauguração. Conversamos com a empresa e eles já se dispuseram a fazer alguns horários que venham até aqui. Nós estamos pleiteando pelo menos uns três horários de manhã e mais uns três de tarde em que o ônibus chegue até aqui, para termos uma oferta melhor de transporte. Era para estar funcionando, mas não coincidiu com o nosso planejamento", explica. Em uma próxima reunião, essa escala deve ser definida.
Ranzi salienta, ainda, que outro caminho possível é a identificação de famílias mais carentes para tentar viabilizar, por meio de uma parceria junto à prefeitura, um roteiro de van que permita abranger estes usuários em situação de maior vulnerabilidade. Nesse sentido, ele orienta que os próprios familiares ou responsáveis manifestem esse desejo e essa necessidade na entidade, a fim de que o pleito possa depois ser levado pela associação ao Poder Público.
Por fim, o presidente ressalta que a pavimentação da via, com a implantação de calçadas, também é uma demanda que vem sendo reivindicada, mas ainda esbarra em alguns entraves burocráticos, como o fato de o caminho passar por terrenos particulares. Até aqui, o que já foi conseguido foi o alargamento e o cascalhamento da estrada, de maneira provisória. "Estas pessoas não foram esquecidas, apenas esbarramos em algumas dificuldades", finaliza Ranzi.
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