Ao ver a tristeza de Vera Estefanói quando foi internada na UPA 24h de Bento Gonçalves, em março, para tratar da Covid-19, a enfermeira Liziane Fermini logo percebeu que a preocupação da mulher de 54 anos ia além do próprio temor causado pela gravidade doença. Quando ouviu a sua história, a profissional da saúde entendeu que outra vida também estava em risco durante a permanência de Vera na unidade: era a sua gatinha Bebê, de 12 anos, que havia ficado sozinha em casa, sem que outra pessoa pudesse lhe dar assistência.
Sem pensar duas vezes, Lizi, que atua na enfermagem há 20 anos, se ofereceu para visitar a felina. "Ela internou na UPA e aí começou a chorar, porque ela precisava de alguém para cuidar da gatinha, para dar comida e água para ela. Eu fui e ela me deu a chave como se estivesse dando para a família. Eu então vinha todos os dias e, se precisava, vinha de noite também. Todos os dias eu enviava vídeos da gata pra ela", recorda. "Para mim foi emocionante, porque a única coisa que disse foi que eu também era sozinha e que iria sim cuidar de sua gata. Eu me coloquei no lugar dela por pensar que, algum dia, também poderia passar por uma situação assim", completa.
O gesto mútuo de confiança criou um vínculo muito forte de gratidão entre as duas. Vera precisou ficar duas semanas na internação, sempre com uso de oxigênio, já que chegou ao local com 55% da capacidade pulmonar comprometida. De lá, voltou para casa, para a companhia da Bebê, mas levando na bagagem uma nova amizade. "Para mim, não adiantaria sair de lá bem e chegar em casa e não encontrar a minha filha. Com essa experiência que eu tive, fica a lição de que existem pessoas boas e podemos encontrar um anjo em qualquer lugar. É um anjo que caiu do céu sem asas. Se eu não achasse ninguém lá, eu teria saído correndo e iria piorar o meu quadro. É bonito ela ter salvado a minha vida e a vida da minha gata", agradece.
Vera lembra do bom atendimento recebido na UPA e ressalta que, sobretudo nestes tempos de pandemia, as pessoas devem olhar mais para a bondade, o amor, e não pensar tanto em bens materiais. "Quando morremos, não levamos nada. Quando for possível ajudar o próximo, faça isso. O que ela fez por mim não tem preço, eu falei pra ela. Hoje em dia, as pessoas são muito materialistas, não pensando no próximo. Eu, por exemplo, ajudei muita gente nessa pandemia. Precisamos ajudar mais os outros, sermos solidários. Acho bonito a humanidade ser assim", finaliza.
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