A bandeira preta que colocou todo o Rio Grande do Sul em classificação de altíssimo risco de contágio pelo coronavírus – e que deve ser mantida por pelo menos mais uma semana – restringiu a atividade de diversos segmentos dos ramos do comércio e serviços. Um deles, o da área de banho e tosa de animais de estimação, tem se mobilizado intensamente em Bento Gonçalves para tentar fazer com que o Estado reveja a proibição de funcionamento, mantendo o trabalho como essencial.
Há a expectativa de que essa liberação ocorra ainda nesta sexta-feira, dia 5, no novo anúncio do governador Eduardo Leite a respeito do modelo Distanciamento Controlado em vigor no território gaúcho. Até lá e em meio a uma série de incertezas, entretanto, os profissionais lamentam que essa situação perdure e, em alguns casos, prejudique seriamente a saúde dos pets que precisam de um cuidado especial.
Representando a categoria, que se uniu em torno da reivindicação, a reportagem do NB Notícias ouviu dois proprietários de petshops, que explicaram a situação e argumentaram que, assim como já vinham fazendo em outros momentos da pandemia, têm condições de atender sem qualquer aglomeração e nem mesmo a presença dos tutores.
Eles destacam que esperam confiantes por uma modificação nos protocolos, mesmo que a eventual permissão não seja de 100% do funcionamento normal. "Nós chegamos a ter até 30 banhos por dia. Tenho quatro pessoas aqui comigo que vivem disso, mas tive que dar férias para três delas. E temos, por exemplo, muitos clientes idosos, que tem um cãozinho como companheiro e não conseguem nem mesmo dar banho nele. Outros também fazem banhos medicinais, que são especiais e tem que ser feitos regularmente, durante toda a vida do animal. Mesmo assim, nós entendemos o momento e não queríamos necessariamente atender a todos, pelo menos os que mais precisam agora", afirma Leandro Taffarel, que tem a loja no bairro Borgo.
Segundo ele, poderia ser estabelecido, neste período mais crítico, o uso somente do serviço de telebusca e tele-entrega dos animais, para impedir o fluxo de clientes na loja, que já era mínimo e devidamente controlado por meio das medidas sanitárias de prevenção exigidas. "Antes disso, já não tínhamos qualquer aglomeração, até porque as pessoas nunca ficam aqui esperando o banho dos pets", lembra. "O que é difícil de entender é por que uma lavagem de carros é considerada como essencial e o nosso serviço, que tem a ver diretamente com a saúde dos animais, não. Eles são como parte da nossa família", completa Taffarel.
Com mais de 20 anos de atuação no ramo no município, Sandra Capovilla fechou completamente o estabelecimento no bairro São Francisco após o decreto da bandeira preta. Ela também reforça que, mais do que uma questão estética, o serviço oferecido é extremamente importante para a qualidade de vida dos animais de estimação – e dos próprios tutores. "Tem muitos bichinhos que necessitam de um banho terapêutico, que as pessoas não conseguem fazer em casa. Como elas vão escovar e secar um cão de pelo longo? Nós precisamos trabalhar, mas entendemos que é uma situação delicada. Só que eles precisam também desta atenção e os clientes nos cobram diariamente por isso. Além de ser uma questão de saúde e higiene do animal, é também da família, porque eles convivem no mesmo espaço", aponta.
Ao longo dos últimos dias, os responsáveis pelos petshops da cidade intensificaram os contatos com autoridades locais, cobrando que a demanda seja levado ao Estado, inclusive através da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne), que se mantém atuante junto ao Governo do RS nas discussões relacionadas à pandemia. "Vamos ver se eles entendem como essa questão é importante e mudam o decreto, assim como já foi feito em outros estados", finaliza Sandra, otimista de que a situação possa ter uma reviravolta positiva no final da tarde desta sexta.
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