A pandemia da Covid-19 trouxe inúmeros questionamentos – muitos deles para os quais ainda estamos procurando respostas. São perguntas que vieram à tona nas mais diversas áreas, desde as comportamentais, profissionais e técnicas. Quais os efeitos desse período de distanciamento sobre a saúde emocional das pessoas? O trabalho no formato remoto é melhor que o presencial? Como preparar o sistema público de saúde para lidar com uma situação de emergência?
Adiciono a esses mais uma questão: por que são sempre os mesmos penalizados, que estão pagando a conta da pandemia? Um ano atrás, em março de 2020, os setores do comércio e prestação de serviço sofreram um golpe fortíssimo – foram obrigados a fechar as portas de seus estabelecimentos em uma tentativa de coibir o avanço do coronavírus. Empresas deixaram de faturar por longos períodos, profissionais perderam suas fontes de renda. Houve fechamento de estabelecimentos e supressão de postos de emprego. Outros setores também foram impactados com medidas restritivas, é verdade – mas nenhum deles na mesma proporção que os segmentos do comércio e serviços.
Aos bravos que venceram essa situação, coube o desafio de readequar sua atuação aos protocolos de segurança determinados pelas autoridades competentes e, também, as restrições impostas pelo Governo Estadual. O comércio mudou sua forma de trabalhar, as lojas investiram em medidas protetivas, criaram novas rotinas para seus colaboradores e clientes – sempre na corda bamba de um planejamento temerário, consequência de uma gestão instável por parte dos poderes públicos.
Um ano depois, retornamos praticamente ao mesmo cenário de restrições e impedimentos ao trabalho no comércio e prestação de serviços. E sugere, então, outra pergunta: Quem é que vai pagar essa conta? Quem será responsabilizado pela falência dos estabelecimentos, já esgotados, que não suportarão mais uma onda de fechamentos? Quem vai ajudar os remanescentes a recuperarem a saúde financeira de suas lojas, a recontratar os colaboradores demitidos, a crescerem novamente?
O momento é, sim, grave em termos de saúde pública e todas as medidas capazes de ajudar a salvar vidas devem ser tomadas por cada um de nós. Mas não é nem justo e nem coerente que toda carga de responsabilidade recaia sobre o comércio/serviços, setores sabidamente reconhecidos pela geração de empregos no país (que enfrenta um dos piores cenários de desemprego de sua história) e movimentação econômica. Essa falta de bom senso no regramento afetará de forma irreversível o segmento e é por isso que não podemos – e não iremos – nos calar diante dessa falta de lógica no critério da aplicação das restrições. Caso contrário, em breve estaremos buscando respostas para outro grave questionamento: quem acabou com o comércio/prestação de serviços no Brasil? E a resposta não será ‘o coronavírus’.
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