Diante da pandemia do coronavírus, a paixão pela corrida dos maratonistas Heitor Spadari, de 62 anos, e suas filhas, Suelen e Hélen, teve que ser estagnada por um período. Para dar sequência aos treinamentos, sobretudo para a atleta de alto-rendimento Hélen Spadari, que leva o nome da cidade de Pinto Bandeira e Bento Gonçalves em competições de nível estadual e nacional, a família adaptou uma pista de atletismo no potreiro da propriedade, tornando um pequeno espaço do local um lugar específico para colocar em prática o amor pela modalidade.
Hélen contou com um ano de muitas mudanças em seus treinamentos. Com um maior volume de intensidade, a atleta não conseguiu encontrar um local adequado para a realização dos trabalhos visando as competições. “Era um desafio que estava sendo imposto para mim e tinha decidido que iria persegui-lo e consegui fazer esses ajustes. Fomos impedidos de continuar com os treinamentos no campo de futebol aqui próximo. Com um volume maior de treinamento acabei precisando de um local mais plano para fazer os treinamentos mais longos. Resolvemos fazer um local no nosso próprio terreno, mais precisamente no potreiro”, relata.
A jovem atleta, de 23 anos, foi federada pela equipe do Paraná, de Campo Mourão, em 2020. Além disso, ela também trocou de treinador, sendo comandada pelo experiente técnico Alex Lopes, da ORCAMPI, de Campinas. As mudanças em meio ao cenário de pandemia trouxeram uma apreensão inicial, mas que no final tiveram consequências muito positivas nos resultados.
Com o auxílio da nova pista no recanto de seu lar, Hélen conseguiu, dentro de suas limitações, se preparar para as competições, as quais ocorreram no final do ano. Em duas provas, sendo uma delas no Troféu Brasil, a atleta melhorou sua marca por vezes consecutivas em um curto período de tempo nos 3000m com obstáculos. “A pandemia em si, por não ter competições, fez com que eu pudesse absorver melhor todas as mudanças, de treino, de local de treinamento. No final das contas foi um ano muito produtivo, no qual melhorei minhas marcas em um ano que essas mudanças vieram realmente para crescer”, pondera.
Uma pista no recanto de casa
Localizada em Pinto Bandeira, a residência da família Spadari conta com uma expressiva área onde há o gado, plantações e uma açude. No alto do terreno está a pista de treinamento – um lugar mais plano, com uma vista exuberante, onde pode-se observar a cidade de Bento Gonçalves e até o município de Farroupilha. O nascer e o pôr do sol vistos do local e a natureza que cerca o lugar servem de inspiração para os treinos e exercícios.
A ideia de construir a pista já havia surgido há alguns anos. “A ideia primeiramente veio do pai, afirmando que seria uma das alternativas se não fosse mais possível treinar no campo. Se fôssemos buscar outra pista em Bento, querendo ou não é um meio turno que perderíamos, e como não sou atleta paga para treinar, seria um custo alto”, comenta.
A pista foi construída com maquinário e os últimos ajustes foram realizados pela família. Agora, Heitor e suas filhas contam com um lugar só deles para dar sequência a paixão pela corrida.
Apesar da significativa diferença entre a pista de atletismo e o local onde Hélen realiza os seus treinamentos, a jovem promessa da modalidade salienta que foi uma alternativa importante para seguir com os trabalhos com vistas para os bons resultados. “fazemos com o que é possível e com o que temos, e essa foi uma das alternativas. Não iria deixar de fazer ou deixar com que alguma coisa atrapalhasse o meu objetivo. Tinha por meta o Troféu Brasil, fiz o meu melhor para chegar bem e consegui melhorar a minha marca duas vezes em um único mês. Isso mostra que estou no caminho certo”, pondera a atleta.
Troféus que não cabem mais dentro de casa
Ao entrar na residência da família Spadari, no cômodo ao lado da cozinha, os olhos brilham e não conseguem acompanhar a tamanha quantidade de troféus e medalhas que foram conquistadas ao longo de muitos anos por Heitor, que há mais de 40 anos disputa competições, e suas filhas, Suelen e Hélen, que seguiram os passos do pai. É tanto troféu conquistado pelos maratonistas que tiveram que construir um novo local, na garagem, para colocar os mais recentes.
A paixão pela corrida começou desde criança para Heitor. Na época de escola, o bento-gonçalvense se destacou nas competições. Os bons resultados se tornaram um incentivo para seguir treinando. “Para voltar a Pinto Bandeira comecei a ir todos os dias correndo com a mochila nas costas. Eu chegava até antes do ônibus, pois ele fazia a volta em São Pedro e na Linha Burati”, relata Heitor.
Com o aperfeiçoamento no esporte, Heitor alcançou o segundo lugar no Estado e foi, durante 10 anos, o melhor maratonista da Serra Gaúcha. A sua paixão pela corrida logo passou de mão para a sua filha Suelen e, posteriormente, para Hélen. “A Suelen começou a gostar do esporte. Fui convidado por uma equipe de Farroupilha, e fomos lá com a filha junto. Começamos a nos destacar ainda mais, ganhamos diversas provas. E depois então veio a Hélen. Ela, no início, não tinha muito boa vontade, mas depois adentrou ao esporte e continuou evoluindo cada vez mais”, destaca o pai.
Mesmo com a pandemia, Heitor não deixou de lado a sua paixão. A alternativa buscada pela família na construção da pista no aconchego de seu lar auxiliou para que ele e suas famílias mantivessem não só a rotina de treinamentos, mas também a união e o amor da família pelo esporte.
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