Conseguir distinguir se a Covid-19 - a doença provocada pelo novo coronavírus - foi a causa ou um dos elementos que levaram ao óbito de um indivíduo em específico tem sido a grande dúvida das pessoas ao longo do período da pandemia. Familiares das vítimas muitas vezes não entendem por qual motivo o seu parente foi colocado na lista de óbitos ligados à Covid-19, se ele morreu de infarto ou tinha problemas mais graves. Uma pesquisa publicada no periódico científico American Journal of Clinical Pathology, realizada por médicos legistas nos estados de Cleveland e de Oklahoma, nos Estados Unidos, mostra que seria essencial uma explicação mais detalhada das mortes para que a população fosse mais esclarecida pelos órgãos de saúde.
Em Bento Gonçalves, houve um exemplo nesta semana. Na quinta-feira, 24, o ex-vereador Paulo Guilamelau, de 84 anos, foi considerado o 136º óbito do município ligado à Covid-19. Ele morreu em casa, vítima de infarto, mas havia testado positivo para a doença. Casos como esse serviram de base para a pesquisa americana, com o objetivo de mostrar que nem todas as pessoas, mesmo que estejam com a Covid-19, podem ter morrido diretamente por causa da doença.
Para efeitos da investigação, os médicos examinaram os cadáveres de dois doentes que morreram após serem diagnosticados com Covid-19. Os profissionais indicaram que um dos indivíduos havia morrido devido a complicações provocadas pelo novo coronavírus, enquanto que o outro havia falecido vítima de uma doença hepática crônica. Em outras palavras, no caso do primeiro paciente este padecia de outros problemas de saúde, porém nenhum deles causaria morte súbita, e como tal os clínicos concluíram que a Covid-19 foi o principal fator. Entretanto, o segundo indivíduo estava infectado com o Sars-coV-2, mas ainda assim condições de saúde prévias e crônicas revelaram ser mais protuberantes e causaram o óbito do paciente.
Sanjay Mukhopadhyay, diretor da Clínica Cleveland de Patologia Pulmonar, afirmou em entrevista ao site Idea Stream que este estudo vai "complicar a questão de até que ponto a Covid-19 está realmente matando as pessoas". "É possível que se trate de uma percentagem relativamente diminuta de indivíduos. A maioria das pessoas infectadas morrerá provavelmente devido à Covid-19, no entanto uma percentagem menor como essa pode sim influenciar a veracidade dos números", destaca.