A Câmara de Dirigentes Lojista (CDL) de Farroupilha realizou um ato simbólico da conclusão das obras de restauro da antiga Estação Férrea Nova Vicenza, conhecida popularmente como Estação Férrea de Farroupilha, no Centro da cidade homônima. Seguindo todos os protocolos de saúde e segurança no combate à Covid-19, a restrita solenidade contou com a presença do prefeito, Pedro Pedrozo, que recebeu do presidente e da vice-presidente da CDL Farroupilha, Juliano Tofolo e Maria Cleni Lopes Noll, uma maquete do projeto, simbolizando a entrega do local para a comunidade farroupilhense e para todos visitantes de outros municípios. Também participaram do ato o secretário de Turismo e Cultura de Farroupilha, Miguel Angelo Silveira de Souza, o ex-secretário da pasta Francis Casali e o Procurador do Município, Valdecir Pedro Fontanella. Para 2021, caso a pandemia esteja sob controle, está prevista uma festa inaugural.
O projeto conta com o financiamento do Pró-cultura RS LIC – Lei de Incentivo à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul e a realização da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal, Pátria Amada Brasil por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A obra teve o patrocínio máster de Anselmi e Tramontina, patrocínio de Biamar, Reggla - Elias Paludo e Colombo, copatrocínio de Grendene, Multicolor, Bigfer, BarrFab, Maltec, Soprano e Filtros Planeta Água, e apoio da Prefeitura Municipal de Farroupilha.
As revitalizações do espaço tombado pelo patrimônio histórico da cidade iniciaram em fevereiro deste ano, após estudos e projetos arquitetônicos. O investimento para a conservação da Estação Férrea de Farroupilha e seu entorno custou, aproximadamente, R$ 1,2 milhão, sendo mais de R$ 1 mi por meio de captações federal, estadual e municipal, além de recursos da própria CDL Farroupilha.
Unindo memória, cultura e economia no mesmo espaço, a conservação e o projeto de ocupação do endereço foram idealizados e executados pela CDL Farroupilha, com recursos das leis de Pró-cultura/RS - LIC e da Rouanet. Sem fins lucrativos, a estrutura abrigará no primeiro semestre de 2021 memorial, biblioteca, espaço gastronômico e Centro de Atendimento ao Turista. Inicialmente, as atividades iriam ser oferecidas já em 2020, mas, por conta do avanço da pandemia, a abertura foi postergada para o ano que vem.
A CDL Farroupilha venceu a licitação da prefeitura para o projeto de restauro e ocupação do prédio, dando à entidade, em 2017, a concessão da antiga Estação Férrea por duas décadas, podendo ser prorrogada por mais 20 anos. “A Estação Férrea é a valorização do próprio comércio e da cidade. Foi ali que começou o desenvolvimento do varejo no nosso município. A CDL Farroupilha abraçou esta causa para deixar um legado para comunidade: não só para os associados, mas para toda a população e visitantes. O nosso propósito é deixar preservada a memória para as futuras gerações. Além de reviver o passado e conhecer como tudo começou, será um espaço para interagir e ter momentos de lazer”, explica o presidente da CDL Farroupilha, Juliano Tofolo.
A preservação de uma história
Concluída em 1909, mas inaugurada em 1910, a antiga Estação Férrea Nova Vicenza fazia parte do trajeto que ligava os municípios de Montenegro a Caxias do Sul. A obra foi um marco para os moradores do território que hoje pertence à Farroupilha, incrementando o varejo local com o transporte de mercadorias. Na época, além da estação, foi construído o Armazém da Ferrovia, fazendo com que se formasse um núcleo habitacional. Foram edificados, ainda, uma escola, uma igreja e pontos comerciais no entorno. A ferrovia foi o elemento de união da comunidade, sendo fundamental para a constituição do município. O trem de passageiros deixou de circular pela região no final dos anos 1970, marcando também a mudança do modal brasileiro, embora oficialmente a linha nunca tenha sido extinta.
“A chegada da Estação Férrea trouxe o progresso e o desenvolvimento ao município e, hoje com o restauro e a preservação do local, destaca-se a continuidade do fortalecimento de Farroupilha. Este projeto que visa a preservação do espaço é mais um passo no crescimento de uma cidade pujante, que preserva suas raízes e tem, na parceria entre entidade e poder público, a conscientização e valorização da história de um povo guerreiro. Parabéns a CDL e a toda a comunidade que ganha muito com esta reestruturação”, elogia o prefeito de Farroupilha, Pedro Pedrozo.
A restauração da edificação
“Um patrimônio histórico não preservado é uma página apagada de nossa história”. A frase de Philip Kotler foi a premissa para nortear a iniciativa encabeçada pela CDL Farroupilha, através de leis de incentivo, em parceria com 12 empresas da região e apoio do poder público municipal.
“Era um prédio que estava completamente abandonado, com a estrutura caindo, que precisava ser cuidado com urgência. O restauro procurou preservar ao máximo a estrutura original, com o mínimo de intervenção possível, utilizando muitos materiais da época e mantendo as características da Estação”, conta Altair de Oliveira, diretor da CDL Farroupilha e integrante da comissão do projeto de restauro e ocupação da Estação Férrea.
Envolvendo mais de 30 profissionais nas obras de restauro, os trabalhos no prédio iniciaram em fevereiro deste ano. O projeto arquitetônico de recuperação foi realizado pela empresa Escaiola Arquitetura Rara, especialista em resgate e preservação histórica, com execução da EWM Incorporadora e acompanhamento da Insito Arquitetura & Restauro. O planejamento cultural foi da Simples Assim e o projeto expográfico, que será conferido em 2021, foi da Plural Consultoria, com acompanhamento e fiscalização do historiador e servidor municipal Vinícius Pigozzi. “Foi um trabalho bastante estudado, pesquisado em todos os detalhes, desde o reboco, ao telhado até a tinta utilizada. Foi um restauro magnífico, desenvolvido por grandes profissionais da região”, observa o presidente da CDL Farroupilha, Juliano Tofolo.
A arquiteta Juliana Betemps, da Escaiola, explica que as equipes envolvidas na obra procuraram resguardar ao máximo as características originais do prédio. O projeto levou em conta todas as determinações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae), com orientação técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Precisamos substituir algumas vigas de madeira, ter um cuidado especial com a recomposição do reboco para manter as características e também o restabelecimento do tom amarelo ocre, conforme prospecção cromática. O maior desafio foi a substituição do telhado, já que o material que tinha à época não é mais encontrado no mercado, por isso acabamos optando por trocar para outro que se aproximasse visualmente do projeto original”, detalha.
De acordo com o diretor Altair de Oliveira, entre as curiosidades descobertas na obra está a cor original da antiga Estação Férrea Nova Vicenza, que, em 1909, era verde claro e azul, nas tonalidades da companhia ferroviária belga Compagnie Auxiliaire des Chemins de Fer au Brésil, responsável por iniciar a estrada de ferro.
“A cor foi descoberta apenas na remoção de cada camada, uma a uma, quando identificaram que a cor que estava em cima do reboco era uma mistura com cal branca. Entretanto, como na memória dos farroupilhenses, na geração que está viva hoje, a lembrança era nas tonalidades amarelo com marrom, os restauradores acharam melhor manter esse resgate afetivo já presente na população. A cor amarela, que achávamos até então que era a original, surgiu na década de 1950, quando a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) encampou as linhas do país”, revela o dirigente da CDL Farroupilha.
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