Um dos grandes nomes da vitivinicultura brasileira nos deixou no início da noite deste domingo, 20. Faleceu o empresário e presidente do Conselho Deliberativo da Vinícola Miolo, Darcy Miolo, de 79 anos. Ele morreu de causas naturais. O velório está sendo realizado na Capela da Glória na Linha 40 da Leopoldina, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves. O sepultamento ocorrerá nesta segunda-feira, 21, às 16h30min.
Darcy Miolo tornou-se nos últimos 50 anos uma das pessoas mais respeitadas no setor vitivinícola brasileiro. Na década de 70, ao lado dos irmãos Antônio e Paulo, ficou conhecido no país inteiro e também no exterior pela produção de uvas finas. Naquela época, a então Martini & Rossi, hoje parte do grupo Baccardi Martini, decidiu produzir vinhos finos no Brasil, a linha Château Duvalier, e estimulou os melhores agricultores locais a trocarem as castas híbridas por viníferas. Darcy logo se destacou no grupo.
No final da década de 1980, a crise econômica afetou especialmente o setor vinícola e por dois anos seguidos as grandes empresas deixaram de comprar a produção combinada com os agricultores. Darcy Miolo ficou em um grande dilema: “Na época, fora da Martini e de uma ou outra multinacional, a gente não tinha para quem vender aquele tipo de uva fina. Sem outra saída, e mesmo sem experiência, decidimos fazer o nosso próprio vinho”. Ele reuniu as economias da família e entrou no ramo com os irmãos e os cinco filhos.
O filho mais velho, Adriano, estudava enologia em Mendoza, na Argentina, e montou uma empresa de consultoria, ajudado pelo irmão Fábio, então com 18 anos. Darcy tinha apenas alguns tonéis antigos e uma pequena prensa de madeira e começou a fazer vinho para vender a granel. O negócio não ia para frente. “Percebemos que era preciso agregar valor ao nosso produto”, diz ele. Assim a família Miolo resolveu engarrafar os vinhos com seu nome. Adriano vinha para casa nas férias escolares, exatamente no período da vindima na Serra Gaúcha. Ele vinificou o primeiro Miolo, um Merlot, com as uvas da excepcional safra de 1991. Foram apenas 8 mil garrafas, entregues ao mercado em 1994, mas começava aí uma nova etapa na história na empresa.
Darcy começou a participar de feiras, de degustações, de eventos. Aos poucos, a Miolo chamou a atenção da imprensa especializada e dos consumidores mais exigentes. Alguns anos depois a casa já estava produzindo 350 mil garrafas de vinho por ano e crescendo cada vez mais. Em 1998, deu mais um salto, investindo na compra de terras, na melhoria dos vinhedos e em ambicioso projeto que se completou com a construção da moderna cantina no Vale dos Vinhedos.
Darcy passou depois o comando dos negócios para os filhos. Por quase dez anos, até 2013, o grupo teve a consultoria do célebre enólogo francês Michel Rolland. A parceria foi importante. Rolland defendeu novos manejos no campo, com podas para baixar os rendimentos ou para aumentar a exposição dos cachos ao calor do sol. Ele também ajudou a equipe a conhecer os diferentes terroirs e as uvas que se dão melhor em cada um deles. Nesse período, a empresa investiu mais de R$ 120 milhões na melhoria de seus vinhedos e vinhos, na expansão da produção, em tecnologia de ponta, instalações e equipamentos de última geração.
Atualmente, a marca conta com vinhedos e unidades de produção no Vale do São Francisco, na Bahia, em Candiota, na Campanha Meridional, e em Santana do Livramento, na Campanha Central. A vinícola produz de 10 a 12 milhões de litros por ano numa área cultivada de aproximadamente 1 mil hectares. Os 120 rótulos são comercializados em 32 países.
Além do vinho, Darcy Miolo também era apaixonado pela criação de cavalos e ovelhas, que mantinha em uma fazenda na cidade de Candiota. O empresário deixa a esposa Gladis e os filhos Adriano, Fábio, Alexandre, Marcos e Cássio.
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