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COVID-19: Cuidados evitaram que outras doenças respiratórias se alastrassem

Dados do Infogripe, da Fiocruz, mostram que a ocorrência dessas outras doenças caiu em mais de 70%. As internações de casos pediátricos graves foram reduzidas em 80%.

Marcelo Dargelio
Por: Marcelo Dargelio Fonte: NB Notícias
12/10/2020 às 11h45 Atualizada em 18/10/2020 às 14h00
COVID-19: Cuidados evitaram que outras doenças respiratórias se alastrassem
Divulgação

Quando os primeiros casos de covid-19 no país foram registrados no fim de fevereiro, coincidindo com o início da chamada "temporada de gripe", os médicos temeram pelo pior. Um novo vírus muito contagioso se somaria a todos os outros patógenos respiratórios que costumam circular nesta época do ano, atingindo sobretudo as crianças. Mas a realidade se revelou bem diferente. A ocorrência dessas outras doenças caiu em mais de 70%. As internações de casos pediátricos graves foram reduzidas em 80%.

Os hábitos de isolamento social, uso de máscara e higiene pessoal redobrada adotados por causa da pandemia foram os grandes responsáveis pela queda expressiva das outras doenças respiratórias no País, segundo especialistas ouvidos pelo Estadão, comprovando a eficácia das barreiras físicas na disseminação de micróbios. Praticamente não tivemos "temporada de gripe". E as crianças foram as mais poupadas.

O número de ocorrências de síndromes respiratórias graves causadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR), um dos mais comuns entre março e junho, caiu 76,4% entre janeiro e agosto deste ano quando comparado à média dos últimos três anos nos mesmos meses. Os casos de gripe também despencaram - uma redução de 62,2%. Os números são do sistema Infogripe, da Fiocruz. 

"Todo o cenário estava armado para termos uma temporada especialmente grave de influenza este ano", afirma Marcelo Gomes coordenador do Infogripe. "Já tínhamos registrado um número de casos de gripe acima da média em fevereiro, bem antes do período em que costuma começar a temporada, mais perto do inverno. Além disso, tínhamos tido uma temporada muito forte de influenza no hemisfério norte e, quando isso ocorre, a tendência é se repetir por aqui."

Em meados de março, no entanto, as medidas de isolamento social tiveram início, as escolas foram fechadas, e as campanhas para estimular a lavagem das mãos e o uso do álcool gel tomaram conta da mídia. Embora a máscara não tenha sido recomendada num primeiro momento, logo em seguida ela também foi adotada por parte da população.

Os dados do Infogripe mostram que o número de ocorrências graves de influenza de janeiro a agosto de 2019, por exemplo, foi de 6 mil, ante menos de 2 mil no mesmo período deste ano. Nos oito primeiros meses do ano, o número de casos de síndrome respiratória grave causada pelo vírus sincicial respiratório caiu de 5.765 em 2019 para 1.047 este ano. Segundo Gomes, a subnotificação é desprezível, porque o painel só registra os casos muito graves, em que os pacientes precisam ser hospitalizados.

Margareth Dalcolmo, pneumologista da Fiocruz, cita que também colaborou para esta queda a alta cobertura que a vacinação contra influenza alcançou neste ano. Logo que o coronavírus chegou ao Brasil, as autoridades de saúde incentivaram a vacinação justamente como medida para evitar a ocorrência de várias doenças respiratórias ao mesmo tempo, o que poderia aumentar a procura por hospitalização, prejudicando ainda mais a oferta. De acordo com o DataSus, a cobertura superou os 90% da população alvo no País.

Mas se as medidas foram tão eficientes contra os outros vírus, por que, então, os casos de covid não foram controlados também? A principal explicação é que a capacidade de transmissão do Sars-Cov-2 é bem maior do que a dos outros vírus - e este é um dos motivos que o tornam potencialmente mais perigoso. Se o isolamento social - ainda que parcial em muitos Estados - não tivesse sido feito, a tragédia da covid-19 teria sido bem maior.

Observações iniciais em crianças americanas com Covid-19 - PEBMED

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