O município de Nova Petrópolis, na Região das Hortênsias, requisitou em liminar de agosto deste ano que o jornal gaúcho O Diário da Encosta da Serra não “publicasse novas matérias”, em ação ajuizada na comarca da região. O pedido foi feito após a publicação de uma reportagem sobre o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou irregularidades na contratação de serviços por parte da prefeitura durante o Natal de 2019. A empresa jornalística foi notificada apenas nesta segunda-feira, 21, em razão da pandemia do novo coronavírus. As informações foram divulgadas pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
O juiz Franklin de Oliveira Netto negou o pedido de tutela provisória em primeira instância e caracterizou o episódio como “pretensão de censura prévia”. A prefeitura recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJ-RS), mas recebeu em 21.ago.2020 outra negativa do desembargador Marcelo Cezar Müller. Ele ressaltou a necessidade de ouvir “o contraditório para melhor elucidação e consequente julgamento do pleito”.
A ação está na fase de apresentação de defesa prévia, na qual as partes entregam por escrito suas versões do incidente e indicam as provas a ser avaliadas. Feita a apreciação dos documentos, o juiz pode arquivar o processo ou marcar uma audiência de inquirição de testemunhas e oitiva das partes, no caso o município de Nova Petrópolis e Raul Petry, dono de O Diário.
A CPI que investigou a prefeitura foi instaurada após o repórter Isaías Rheinheimer, de O Diário, publicar uma série de reportagens que levantou indícios de direcionamento de licitação e superfaturamento de orçamento na contratação da decoração natalina de Nova Petrópolis. As denúncias levaram o prefeito Regis Hahn a demitir o então secretário de Turismo Paulo Roberto Staudt, em dez.2019.
Com a apuração finalizada, a CPI verificou as irregularidades noticiadas pelo jornal, dentre outras “ilicitudes constatadas”, e encaminhou, em 4 de junho deste ano, o relatório aprovado por unanimidade ao Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul (TCE-RS) e ao Ministério Público Estadual (MPE). As conclusões da investigação foram publicadas em matéria de O Diário no dia 8 de junho. A prefeitura reagiu à notícia com o pedido de censura prévia.
Segundo o repórter, a administração de Nova Petrópolis não é “afeita a prestar contas”. Ele afirma que “os funcionários da prefeitura recusam, por exemplo, pedidos de informação via LAI (Lei de Acesso à Informação) com frequência. Mas é a primeira vez que recorrem a uma ação de censura prévia.” Procurada pela Abraji, a prefeitura de Nova Petrópolis não havia se pronunciado sobre a disputa judicial.
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