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TÚNEL DO SÃO JOÃO: Perícia indica que veículos de grande porte podem ter problemas na circulação

Análise independente do projeto da prefeitura, contratada por empresas locais, aponta, por exemplo, que carretas que transportam matérias-primas e produtos não terão plenas condições de tráfego em alguns pontos

14/09/2020 às 22h40 Atualizada em 22/09/2020 às 16h24
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Jorge Bronzato Jr.
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Jorge Bronzato Jr.
Jorge Bronzato Jr.

Depois de licitações desertas e revisões no projeto, a construção de novo túnel de acesso ao bairro São João, cruzando sob a BR-470, ainda deverá seguir causando polêmicas em Bento Gonçalves. Favorável à obra, um grupo de empresários que trabalha no entorno do local tem cobrado respostas da prefeitura quanto a possíveis dificuldades que veículos de grande porte – como carretas – poderão enfrentar ao circular pela futura intersecção.

O alerta e a reivindicação partem de uma perícia técnica independente, que foi contratada por eles para avaliar a proposta e identificar eventuais problemas para o tráfego. O relatório resultante deste estudo será oficialmente entregue ao Poder Público nos próximos dias. A comissão formada para pedir adequações no projeto tem tentado agendar uma reunião com o prefeito, mas, pelo menos até aqui, não obteve retorno. Se não houver diálogo, eles devem recorrer ao Ministério Público.

Assinado pelo engenheiro Carlos Eugenio Gama Merck, o estudo utilizou os arquivos disponibilizados no site da administração municipal. A partir deste material, foram realizadas análises planimétricas e altimétricas através de simulações computacionais  dos raios de giro em diferentes pontos do novo trevo, por meio do software Vehicle Tracking 2018. Uma questão importante destacada na perícia é que os veículos adotados no projeto da prefeitura são do tipo CO, ou seja, caminhões e ônibus convencionais, com comprimento de 9,1 metros.

Ocorre que, tanto em função do posto de combustíveis como das demais empresas instaladas na área, a circulação de veículos ainda maiores – como carretas e bitrens – é rotineira, inclusive para a entrega de matérias-primas. Há, ainda, a sede de uma transportadora no bairro, com caminhões deste porte na frota. Com isso, os empresários temem que, além de prejuízos, a inevitável passagem destes veículos pelo local, sem a devida estrutura, gere transtornos ao trânsito, com bloqueios de pista. "Em nenhum momento, nos posicionamos contra este novo acesso. Ele é muito importante, disso não temos dúvida que seja necessário para toda a comunidade, mas precisa ser feito de uma forma que não prejudique ninguém e que não tenha que ser alterado depois. É dinheiro público que está sendo investido, então também entendemos que estamos no direito de chamar atenção para esses problemas", afirma Nelson Cavalleri, proprietário da abastecedora.

Outra demanda levantada por Cavalleri diz respeito mais diretamente ao futuro de seu empreendimento. Com a futura interseção, a entrada e a saída do posto serão mais próximas do que as atuais, o que, em alguns momentos, poderá gerar um cruzamento dos veículos e aumentar o risco de acidentes e de congestionamentos. Em uma recente simulação com duas carretas, uma entrando e a outra saindo, já foi detectada a possibilidade de que não haja espaço suficiente para as manobras. "Eu tenho os caminhões como os principais clientes e isso também pode acabar nos causando um grande prejuízo. Não sei se não teremos que fechar. Mas eu acredito que ainda dá para fazer os ajustes e buscar algo que seja melhor para todos. Se  o projeto não for mudado, todos vão acabar sentindo, porque vai gerar um grande problema para o trânsito. Já temos o caso do trevo da Pipa Pórtico, que também não foi pensado para carretas, agora teremos o outro principal acesso de Bento do mesmo jeito", lamenta.

O que diz a perícia técnica
Inicialmente, considerando os dois extremos avaliados, a análise constatou que os veículos do tipo CO (caminhões e ônibus convencionais, até 9,1 metros) passam por todos os pontos críticos sem maiores problemas. O veículo do tipo BTL (bitrem de 9 eixos, com 30 metros), por sua vez, não consegue fazer nenhuma das conversões.

Quando empregado o veículo do tipo OR (ônibus rodoviário, com 14 metros), ocorre o avanço no meio-fio em pelo menos três pontos, além de problemas no retorno Veranópolis - Veranópolis. No caso do veículo tipo CA (carreta de 5 eixos, com 18,6 metros) a conversão exige que se passe sobre o meio-fio em pelo menos sete pontos. Se o veículo usado for do tipo BT7 (bitrem de 7 eixos, com 19,8 metros), a subida no meio-feio é registrada em 5 pontos, além dos mesmos problemas no retorno Veranópolis - Veranópolis. No geral, são apontadas prováveis falhas também no retorno Garibaldi - Garibaldi, no acesso Garibaldi - São João e no acesso Veranópolis - São Roque.

O relatório apresentado pelo engenheiro indica, em suas conclusões, que em função da sinalização e dos pontos de parada, conforme o movimento, o veículo precisará parar. Em trechos como o retorno Veranópolis - Veranópolis e o acesso Veranópolis - São Roque, contudo, a rampa no local de parada é ascendente e de 10%. "Um veículo carregado poderá apresentar problemas de tração na retomada da circulação", diz o texto. 

Interrupção da Avenida Alviazul
O bloqueio temporário do tráfego na avenida Alviazul, o principal acesso ao bairro São João, e o único para veículos maiores, tende a ser outro obstáculo a ser enfrentado. "Soluções para circulação de veículos leves para acessarem o bairro São João existem, veículos pesados têm como único acesso a rua Alviazul e sua interdição deixará todas as indústrias e transportadoras sem condições de receber e expedir produtos. O acesso pela rua Arlindo Baccin só permite o tráfego de veículos leves, sendo a conversão da BR-470 para a mesma de grande dificuldade. O acesso à avenida São Roque se dará pela rua Celeste Agostin. Veículos pesados terão dificuldade na circulação por esta rua tanto na saída para a BR-470 como na chegada da avenida São Roque", finaliza o relatório.

O que diz a prefeitura
Contatada no final da manhã desta segunda-feira, dia 14, a prefeitura de Bento Gonçalves respondeu aos questionamentos encaminhados pela reportagem do NB através da diretora-adjunta do Institudo de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ipurb), Melissa Bertoletti.  Ela salienta, inicialmente, que o projeto foi elaborado por uma empresa com expertise em trânsito e considerou toda a necessidade de mobilidade urbana na região. "Junto a isso o projeto foi aprovado pelo órgão competente DNIT, órgão responsável por autorizar a execução do projeto. Portanto está plenamente de acordo com as normas do órgão federal e do Plano Municipal de Mobilidade Urbana. Ressaltamos que é possível, durante a execução da obra, proceder ajustes, se necessários e em conformidade com as normas técnicas", afirma.

Sobre a possível falta de diálogo, Melissa justifica que o projeto tramita no Ipurb desde 2014 e, desde então, em várias etapas discutiu-se com a área técnica dos órgãos envolvidos e com representantes da comunidade.  "Além de ampla divulgação da obra, especialmente por órgãos oficiais de comunicação, a administração municipal promoveu uma reunião, no dia 15 de agosto de 2019, no bairro São João, que contou com a presença de vários moradores, além de técnicos do Ipurb e autoridades para apresentação do projeto. Na ocasião, foram discutidos alguns pontos e as demandas inseridas no projeto. O Poder Legislativo também debateu o projeto. O presidente da Associação de Moradores do Bairro São João sempre foi informado das etapas da obra.  O prefeito Pasin sempre em sua administração priorizou o diálogo, a transparência e a construção coletiva das soluções necessárias ao atendimento dos pedidos da comunidade", complementa a diretora-adjunta.

No que diz respeito ao caso específico da mudança na entrada e saída do posto de combustíveis, que recebe um grande fluxo diário, Melissa diz que a administração "está disposta a receber e analisar sugestões que poderão ou não ser implementadas no decorrer da obra, caso haja  viabilidade técnica". Por fim, com relação ao acesso secundário que substituirá a avenida Alviazul, a adjunta destaca que "foi criado, junto ao acesso secundário, um alargamento (duas pistas) para não interromper o fluxo de acesso e saída do bairro".

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