Três em cada quatro brasileiros está ansioso a espera de tomar o imunizante do coronavírus quando ele for registrado. É o que mostra uma pesquisa inédita da ONG Avaaz feita pelo Ibope e à qual o Estadão teve acesso. Do total de participantes, 75% disseram que tomarão a vacina com certeza, 20% afirmaram que talvez tomem e 5% relataram que não receberão o imunizante de jeito nenhum. A margem de erro da pesquisa é de três pontos porcentuais, para mais ou para menos.
Entre os 5% que não admitem tomar a vacina, houve maior índice de hesitantes na faixa etária dos 25 aos 34 anos (34%) e entre pessoas da religião evangélica (36%). Não houve diferença significativa das respostas segundo sexo, raça/cor, escolaridade e renda. O Ibope também buscou saber as razões para a recusa ou desconfiança na vacina. Entre as principais estão dúvidas quanto à segurança e à eficácia do imunizante e teorias da conspiração das mais diversas, como a de manipulação genética ou implantação de um chip por meio da vacina e até a hipótese de que o produto seria feito com fetos abortados.
Tais narrativas - sem nenhuma evidência científica e já desmentidas por agências de checagem - são comuns em postagens nas redes sociais que propagam fake news. Para Laura Moraes, coordenadora de campanhas da Avaaz no Brasil, a disseminação de desinformação sobre Covid-19 já está ameaçando uma eventual política de vacinação contra o coronavírus. “Os números da pesquisa são assustadores. Mostram que, antes mesmo de termos uma vacina aprovada, alguns grupos já estão articulados nas redes para espalhar informações falsas, sem embasamento teórico ou científico, que colocam medo nas pessoas”, disse.
O medo é, de fato, um dos principais recursos das postagens contrárias à vacina. O Estadão acompanhou nas últimas semanas dois dos maiores grupos antivacina no Facebook. Juntos, eles têm 22 mil seguidores. Além das teorias já mencionadas, são comuns fotos de bebês com doenças supostamente atribuídas à vacinação, sem nenhuma comprovação da relação. Também é frequente o compartilhamento de vídeos com falas de supostos especialistas estrangeiros alertando sobre riscos do imunizante. Faz parte da estratégia ainda realizar montagens sobre imagens de canais de TV, mantendo os apresentadores e alterando o conteúdo da tela para uma mensagem alarmista contra a vacinação.
Para Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), nem todos os que resistem à vacinação são participantes de movimentos antivacinas ou negacionistas da ciência. Em grande parte dos casos, diz ela, os hesitantes têm dúvidas comuns sobre o processo de desenvolvimento de um imunizante. “É uma vacina nova, que está sendo desenvolvida em tempo recorde, é normal as pessoas terem dúvidas”, diz.
Para os especialistas, é preciso que governos, comunidade científica e plataformas de tecnologia melhorem a comunicação com a população para esclarecer as dúvidas, diminuindo, assim, a lacuna ocupada hoje por peças de desinformação.