Quase um ano após viver um dos momentos mais marcantes de sua vida, a idosa Honorata Demari, de 93 anos, reencontrou os três homens que a salvaram de helicóptero durante os deslizamentos de terra e enchentes em Bento Gonçalves, no mês de maio de 2024. Desta vez, porém, o sobrevoo pela região foi diferente: sob céu azul e clima seco, ela retornou às alturas não por necessidade, mas por emoção.
No dia 4 de maio de 2024, a comunidade de São Gotardo da Linha Demari, no interior do município, ficou completamente isolada. A chuva intensa que atingiu o Rio Grande do Sul causou deslizamentos de terra e tornou o acesso à localidade impossível. Foi nesse cenário que Honorata, então com 92 anos, precisou ser retirada de helicóptero. Ao lado da irmã de 89 anos e da cuidadora, ela estava abrigada no salão da igreja da comunidade, aguardando socorro com receio de que novos deslizamentos atingissem sua casa.
A salvação veio do ar: o resgate foi feito pelo empresário Rafael Carrard, 41 anos, piloto da aeronave, acompanhado do bombeiro Carlos Nataniel de Barros, 37, e do gestor em desastres Kleber de Moura, 40, integrantes do Grupo Especialista em Resgate de Alto Risco (Gerar).— O salvamento da Honorata foi simbólico, porque foi a penúltima viagem daquele dia. A gente voou por cinco dias seguidos, do nascer ao pôr do sol, resgatando quem estava ilhado — lembra Carrard, emocionado.
A primeira viagem de helicóptero da idosa, sobrevoando as terras onde cresceu, terminou com um pouso seguro no Aeroclube de Bento Gonçalves. Após o reencontro em março deste ano, Carrard cumpriu uma promessa feita ainda durante o resgate: levar Honorata para um passeio aéreo assim que tudo estivesse bem.
O novo voo aconteceu com o céu limpo e sem riscos, oferecendo a Honorata uma nova perspectiva do local onde mora. Durante o passeio, ela apontou referências conhecidas e lembrou com detalhes da tragédia de 2024.
— A primeira vez foi com muita chuva, tudo era rio, nunca vi uma coisa igual. Dormimos três noites no salão da igreja, depois ficamos dois meses na cidade. Mas eu gosto da colônia, então voltei, contou.
A sobrinha, Vera Lúcia Demari, também acompanhou o passeio. Enquanto sobrevoavam o Rio das Antas e o centro de Bento Gonçalves, ela destacou como a experiência ajudou a tia a compreender a dimensão da tragédia que viveram. — Ela amou. Acho que olhando de cima conseguiu entender melhor tudo que aconteceu durante a chuvarada — afirmou Vera.
O reencontro, carregado de emoção e gratidão, marcou não apenas a memória da família Demari, mas também a de quem dedicou dias ao resgate de moradores isolados na Serra Gaúcha.