A Páscoa, tradicionalmente associada à ressurreição de Cristo e à renovação da fé, tem enfrentado mudanças significativas nos últimos anos. Em meio a uma sociedade cada vez mais acelerada e consumista, o feriado religioso ganha contornos comerciais, e muitos dos seus significados originais acabam deixados de lado.

Comércio, ovos de chocolate e promoções tomam conta da paisagem urbana semanas antes do domingo pascal. Para muitas famílias, a Páscoa se resume à troca de presentes e à reunião para o almoço. O simbolismo da data — perdão, renascimento e espiritualidade — se dilui entre embalagens coloridas e mensagens genéricas.

A origem da Páscoa remonta ao judaísmo, com a celebração da libertação do povo hebreu no Egito. No cristianismo, representa a vitória da vida sobre a morte com a ressurreição de Jesus, após a crucificação. Elementos como o cordeiro, o pão e o vinho carregam essa tradição. Contudo, em muitos lares, esses rituais foram abandonados ou nunca chegaram a ser conhecidos.

Apesar disso, há famílias que buscam resgatar e manter o sentido espiritual da Páscoa. Em algumas casas, o domingo começa com orações e termina com partilha à mesa, marcada por receitas típicas e a presença simbólica do pão, que representa o corpo de Cristo. Outros ainda mantêm a tradição da Via-Sacra, encenada por grupos religiosos em bairros e cidades do interior.

Especialistas em comportamento religioso apontam que a perda do simbolismo não é exclusiva da Páscoa. “Vivemos em um tempo em que os rituais perderam valor simbólico. O tempo curto e o excesso de distrações tiram o foco do essencial”, explica a teóloga e educadora Cristiane Alves.

Para que o verdadeiro significado da data não se perca por completo, educadores recomendam práticas simples. Uma delas é explicar às crianças, desde cedo, que a Páscoa vai além do chocolate. Ler passagens bíblicas, contar histórias de fé e incentivar gestos de solidariedade são formas de vivenciar o período com mais profundidade.

Outra alternativa é resgatar valores como empatia e união familiar. Doar alimentos, visitar pessoas sozinhas e participar de missas ou cultos são atitudes que resgatam o espírito da celebração.

Em um tempo marcado por incertezas e instabilidade, refletir sobre a Páscoa como tempo de recomeço pode ser um caminho para reencontrar o equilíbrio entre o sagrado e o cotidiano. É um convite à pausa, à reconexão com os próprios valores e à prática do bem no dia a dia.