Enquanto a população enfrenta filas, dor e desamparo, a rede pública de saúde de Bento Gonçalves mergulha em um cenário de abandono que beira o inacreditável. E não se trata de grandes investimentos ou cirurgias de alta complexidade. Estamos falando do básico: seringas, álcool 70%, cateter, papel higiênico e tampas de vaso sanitário.
Na UPA 24 Horas, profissionais denunciam a falta de insumos essenciais. Sem Abocath (equipamento para aplicação de medicação intravenosa) e até mesmo álcool para desinfecção, o atendimento é mantido por esforço e improviso. Na UBS Barracão, a geladeira estragada impede a aplicação de vacinas — inclusive a da gripe — porque não há onde manter os imunizantes refrigerados. É uma falha grave, que compromete toda uma cadeia de prevenção.
A situação se repete na UBS Licorsul, onde um paciente foi impedido de receber atendimento odontológico por falta de álcool para esterilização dos instrumentos. No posto da Vila Nova, não há médico e um cartaz na porta avisa que não há agendamento disponível. Já na UBS Central, banheiros interditados e os que ainda funcionam não têm papel higiênico nem tampas nos vasos. É esse o nível da saúde pública hoje na cidade.
É impossível ignorar a responsabilidade do prefeito Diogo Segabinazzi Siqueira, que, ao invés de enfrentar essas questões com seriedade, escolhe priorizar a pintura de postes e a limpeza de luminárias. Aparentemente, a estética da cidade pesa mais do que a dor silenciosa de quem espera atendimento médico, ou de servidores que trabalham sem o mínimo necessário.
Não se está falando aqui da longa fila de mais de 10 mil pessoas à espera de cirurgias eletivas, nem da demora em consultas com especialistas. Trata-se do elementar. Do que qualquer administração, mesmo limitada, conseguiria resolver com gestão e respeito ao cidadão.
A saúde pública de Bento Gonçalves está adoecida, e a omissão tem nome e cargo. Está na hora de o prefeito acordar e reorganizar suas prioridades. Pintar postes é bonito, mas salvar vidas é urgente.